Você pode a esta altura perceber que já escrevi sobre esse tema algumas vezes, nesta coluna no portal da Catho e em outros blogs. E também deve estar se perguntando: O QUE TUDO ISSO TEM A VER COM O TÍTULO DESTE ARTIGO????
Quando médicos e curiosos (como eu) falam sobre a importância de dormir oito horas todas as noites, alguns sempre respondem: “Ah, mas eu me sinto super bem com seis horas!” As novas perguntas da Neurociência são : “Será que você já se acostumou a se sentir cansado, e está achando que este é o seu padrão de bem-estar? Será que seu corpo e mente estão dando sinais de que estão precisando de algo, mas você, tão ocupado, nem ouve? Está tudo bem, mesmo?”.
A resposta mais comum é que está tudo bem, é só uma insônia em um dia, uma dor de cabeça no outro, dor nas costas no outro, um descontrole emocional no outro, probleminhas no estômago…. E tem remédio para tudo isso hoje, tão fácil resolver passando na farmácia ou pedindo de um "amigo". Sabemos que remédio é quase sempre paliativo para as consequências, e quase nunca resolve as verdadeiras causas, por isso o problema se repete indefinidamente, e se acentua com o tempo. Sim, nós sabemos de tudo isso.
Em uma pesquisa publicada na revista Harvard Business Review, Charles Czeisler, professor de Medicina do Sono da Faculdade de Medicina de Harvard, explicou que a privação do sono provoca em nós uma debilidade muito semelhante ao álcool na corrente sanguínea, mesmo que a reação seja diferente. Simplesmente ficamos alterados em nossas funções emocionais e cognitivas e não percebemos. Ele diz que uma sociedade que elogia e exalta as pessoas por trabalharem ou terem compromissos demais se privando do sono é uma sociedade com problemas sérios de valores. Bom, sobre os valores nós já sabíamos.
Estudos da Universidade de Luebeck, na Alemanha, concluíram que o sono melhora não só a saúde do corpo, mas também a nossa capacidade de resolver problemas e tomar decisões durante o dia. As conexões naturais realizadas durante o sono nos ajudam a, ao acordarmos, encontrar soluções mais facilmente para os problemas, a sermos mais criativos e produtivos. Será por isso que o Google tem em sua sede os sleep pods ou “compartimentos do sono”?
Acho que é hora de voltar em uma lição básica do curso de gestão do tempo. Tempo é escolha, e temos de colocar na nossa semana em primeiro lugar tudo o que mais importa. Se tem coisas demais, escolha tirar alguma, corajosamente. Dormir, fazer atividade física, estudar alguma coisa, ficar com a família ou com quem se ama – isso tem de estar na agenda e talvez deva ser considerado algo como “sagrado”. Não dá tempo para ir aos três eventos para os quais foi convidado e que são suuuuper importantes, sem comprometer o que é “sagrado”? Vá a um, ou não vá naquele mês. Não deu tempo de atualizar o Facebook, contando tuuuudo o que está fazendo? Não atualize nesta semana. Ninguém vai se importar, acredite.
Observe que geralmente exageramos naquilo que mais gostamos, e isso não quer dizer que vamos parar de vez, tirar o prazer de fazer (isso nunca!), mas pode estar na hora de reduzir um pouquinho aquilo que exageramos. Pode ser que exageremos porque adoramos cozinhar, cuidar da casa, ir a eventos, ficar na internet, ir à academia, assistir a séries – nós sempre exageramos no que mais gostamos. Incrível como tirar um pouco do exagero faz a mágica e resgata coisas relevantes que foram negligenciadas.
Diversificar a agenda, abrindo espaço para outras descobertas prazerosas, saudáveis, e também para novas práticas diárias das habilidades que queremos conquistar é preciso. E um pouco de silêncio diariamente, longe dos ruídos dos aparelhinhos, das inúmeras mensagens por tantos canais e da tagarelice mental. Silêncio que pode vir bem acompanhado de uma boa noite de sono. A vida muda, mas só quando mudamos.
Escrito por Rosangela Souza. Publicado em 03 de agosto de 2016 na Revista Catho – Carreira & Sucesso. Editado por Rosangela Souza para o site da Companhia de Idiomas – Artigos de Gestão.
Rosangela Souza é fundadora e sócia-diretora da Companhia de Idiomas e ProfCerto.Graduada em Letras e Tradução/Interpretação pela Unibero, Business English na Philadelphia, USA. Especialista em Gestão Empresarial com MBA pela FGV e aluna do Pós-MBA da FIA. Desenvolveu projetos acadêmicos sobre segmento de idiomas, planejamento estratégico e indicadores de desempenho para MPMEs. Colunista do portal da Catho Carreira & Sucesso, RH.com e Exame.com. Professora de Técnicas de Comunicação, Gestão de Pessoas e Estratégia na pós graduação ADM da Fundação Getulio Vargas.