Tenho um professor na FIA que diz: “ Vai implementar uma ideia? Não importa como você a apresenta, acontecerá o seguinte: 15% serão sempre contra qualquer coisa que você propuser; 35% serão antipáticos à mudança, mas não discordarão na hora, só depois; 35% serão simpáticos à mudança, mas não apoiarão verbalmente (nem na hora, nem depois); 15% serão a favor sempre, apoiarão qualquer coisa que você propuser.
Em minha vida empresarial, nem sempre foi assim, mas acredito que ele tenha razão na maioria das vezes. É claro que depende de como você apresenta a ideia. Depende mais ainda de quando você a apresenta: aos poucos, conversando informalmente com um e outro, construindo junto – ou de uma vez? Depende também de quem a apresenta: alguém que tem credibilidade? Alguém que é amado pelo time? Alguém odiado? E depende de quem ouve, sempre.
Tudo isso interfere na receptividade de uma ideia. Quem eu sou, quem o outro é, e como nos relacionamos. Parece que a ideia apresentada é o que menos importa! Podemos impulsionar ou matar uma ideia, quase sempre só depende da nossa capacidade de persuasão, do senso crítico (ou falta dele) em quem ouve – e dos interesses em jogo.
E como diz a Karina Soares, Gerente de Relacionamento da Companhia de Idiomas, empresa da qual sou sócia: “ que bom que é exatamente assim, pois se tivéssemos a unanimidade, ninguém olharia por outro ângulo e isso aumentaria enormemente o risco de executar uma ideia. Os riscos nunca seriam identificados”.
Esta reflexão introduz dois personagens do mundo corporativo, também citados por este professor: os Free Riders e os Joana D’Arc. Interessante como estes dois comportamentos extremos existem em todas as empresas. Arrisco dizer que em todas as famílias também!
De um lado, os Joana D`Arc : são corajosos, têm opinião, são críticos (às vezes viciados em criticar, mas nem todos) e não têm medo de falar o que acham sobre as coisas. Geralmente não têm aversão ao risco, têm boa autoestima e não estão ali exatamente para serem amados. Por isso, dependendo da cultura corporativa, são queimados na fogueira.
De outro, os Free Riders: aqueles que ouvem tudo, às vezes anotam, quase nunca se posicionam, ficam olhando para quem está falando, e esperam, esperam, até que alguém… se posicione! Que alívio…
São pessoas extremamente aversas ao risco – não podem suportar correr o risco que acreditam correr de serem menos amadas ao discordar, acham que podem ser demitidas se discordarem e por aí vai. Ou são pessoas que não têm mesmo raciocínio crítico, não têm opinião, não sabem analisar, só executar. No máximo dão um exemplo, contam um caso – mas não se posicionam.
Há Free Riders que têm opinião – estes podem ser perigosos. Constroem excelentes argumentações de apoio ou repulsa, mas nunca na sala de reuniões, sempre por trás. Se querem que algo mude, eles escolhem as pessoas certas para fazer comentários. Adivinha quem? Os Joana D’Arc, porque eles compram a briga e os representarão na primeira oportunidade. Não precisa nem pedir.
Ser Joana D’Arc tem altos riscos. Se por um lado, o profissional mostra o que pensa, desenvolve senso crítico, demonstra segurança e muitas vezes inteligência, ele tem de ter cuidado para não se viciar em criticar a tudo e todos. Deve exercitar concordar, validar, ver o lado bom, e não olhar só o lado negativo (que tudo e todos têm). Isso equilibra, mostra inteligência e o distancia um pouco da fogueira.
Mas por que os Free Riders são assim, meio letárgicos? É claro que um psicólogo responderia com muito mais propriedade que eu. Percebo na vida empresarial que este comportamento do Free Rider pode ter uma raiz familiar: como seus professores se comportavam quando ele se posicionava?
Estudou em escolas que valorizavam crianças quietinhas? (quase todas valorizam até hoje!). Viveu em uma família que também o ocupava para que ficasse quietinho? Quando criança ou adolescente, não tinha um ambiente que motivava a reflexão, o debate – sem descambar para a briga?
A razão também pode ter um componente de personalidade – é claro que há pessoas que expõem suas opiniões mais facilmente, e outras mais inseguras, que temem ser julgadas por falarem algo “errado” etc. E, finalmente, pode ter uma causa na liderança que esta pessoa tem hoje: se o líder ou aquele que conduz uma reunião tem prazer em intimidar, em mostrar que é sabedor de todas as coisas… é provável que crie um ambiente favorável aos Free Riders.
O líder deve se ouvir. Será que seu comportamento não inibe o pensamento livre? Líderes voltados para resultado já nascem com uma certeza, falam com segurança, passam uma sensação de que estão sabendo o que fazem (quando nem sempre estão). Isso é necessário para conduzir o barco, porque líder inseguro e reticente é o pior de todos.
No entanto, o líder seguro tem de começar a realmente buscar nos Free Riders opiniões sobre os assuntos em pauta. “Hoje eu gostaria de ouvir primeiro o que acham o João, a Maria e o José”. E não pode fulminar os Joana D’Arc com os olhos quando eles se manifestam. Lembrar do Rossini, autor de O Barbeiro de Sevilha: “Sem a liberdade de desaprovar, não há elogio lisonjeiro.”
Se este líder demitir um Joana D’Arc então, aí estará instalado um ambiente de paz, sem discordância! Só que o líder precisará ouvir a música da banda O Rappa todo dia: “paz sem voz, não é paz, é medo”.
Na próxima reunião que você conduzir, coloque os Free Riders na fogueira. E não queime a Joana D’Arc, acusando-a de traição.
Ah! E você, é um deles?
Fonte: Catho e Rosangela Souza
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Rosangela Souza é fundadora e sócia-diretora das empresas Companhia de Idiomas e ProfCerto. Graduada em Letras e Tradução/Interpretação pela Unibero, Business English na Philadelphia, USA. Especialista em Gestão Empresarial com MBA pela FGV e aluna do Pós-MBA da FIA/USP. Desenvolveu projetos acadêmicos sobre segmento de idiomas, planejamento estratégico e indicadores de desempenho para MPMEs. Colunista do portal da Catho Carreira & Sucesso.