Ainda ouço pessoas se referindo a outras como se elas de fato fossem melhores por conta da empresa famosa onde trabalham, a profissão que têm, o bairro onde moram. Fui a um aniversário de um amigo e ele me apresentou as pessoas assim: Este é o João, diretor da Nestlé. O José, gerente de criação no Google. E por aí foi. Era só um aniversário, precisa mesmo ser assim? Quando essas coisas nos definem e as perdemos, o peso da perda é enorme.
Em uma sociedade onde o bairro, o carro, marcas e empresas são nossos sobrenomes, as imperfeições continuam sendo escondidas, mentiras são contadas para se parecer perfeito, falhas são disfarçadas. O que não dá status nem é mencionado. Redes sociais são a nossa revista Caras particular: olhem para mim naquele lugar bacana, vejam o que ganhei do meu namorado perfeito, curtam o que comprei, admirem o quanto tenho lindos amigos e família sensacional. Qualquer coisa que se faz tem de virar um post, desde que este reforce o status atual: “vivendo uma vida perfeita”. As pessoas têm cada vez mais medo de não parecerem que estão bem diante dos outros e, por isso, sentem uma necessidade, quase que primária, de mostrar o quanto são felizes e o quanto fazem coisas legais. Viver agora requer registro e post?
Me pergunto onde está a vida imperfeita de cada dia? Como e onde podemos mostrar o que realmente somos, seres imperfeitos, com vidas imperfeitas? Entendo que não é na rede social, mas se temos reforços positivos pela felicidade que postamos – por contraste a tendência é nos envergonharmos das imperfeições, não?
Acho que podemos colocar esta reflexão em prática, com duas ações simples e, ao mesmo tempo, muito relevantes nesta jornada de aprender com a vida.
1. Percebeu que comeu bola, algo deu errado, a vida não está sendo como planejou? Não coloque a responsabilidade nos outros – fazemos isso quase que automaticamente:
“Mas foi o sistema operacional (e você não conferiu) ”.
“Mas foi ele que não me disse” (e você também não perguntou).
“Fui demitido, mas não tive culpa, foi a crise” (mas você desperdiçou oportunidades dizendo que não tinha tempo) .
Enquanto não conseguirmos dizer: “comi bola e a responsabilidade parcial ou total é minha”, você não melhora em nada.
O que vai ajudar na jornada é mudar nosso padrão mental para acolher as falhas, resolver problemas, e admitir as imperfeições, ao invés de rapidamente encontrar culpados e não fazermos nada para melhorar, já que somos perfeitos. Os problemas voltam e se acumulam, quando não há aprendizados.
2. Não foi bem em algo e terá nova chance? Não deixe a frustração e o medo de falhar de novo serem maiores que sua fé, seus sonhos, ou sua necessidade. Esse medo de falhar de novo paralisa, e, pior, faz a gente escolher atalhos:
“Não vou nem tentar aquele vestibular, porque se eu não passar, fico mal diante da família, já que meus primos passaram”.
“Não vou buscar outro emprego, porque aqui estou seguro. Vai que eu mudo e não dá certo, como vou justificar? Melhor ficar por aqui mesmo”.
Pior do que não obter êxito é nem ao menos tentar. Erros são bons professores e não carrascos.
Talvez o maior exercício seja desenvolvermos uma visão mais contemplativa da vida. O professor de yoga que nos atende na Companhia de Idiomas sempre diz, no meio da aula: não se apegue a sensações agradáveis (para não viciar nelas, talvez) e não tenha repulsa a sensações desagradáveis (elas podem ser a fonte que precisamos para crescer).
Faz sentido para você como faz para mim? Vamos continuar o tema no próximo artigo!