Estava em Dallas no mês passado e resolvi passar uma semana visitando os ótimos museus da cidade. Um deles foi o Perot Museum of Nature and Science, cuja proposta é o aprendizado através do prazer da descoberta e diversão, como tem de ser qualquer aprendizado. Muita coisa me chamou a atenção no museu, mas hoje quero destacar com você um único aspecto e o que ele me trouxe de reflexão sobre carreiras. Vamos lá?
Em todas as instalações do museu (Energia, Vida, Pássaros, Engenharia, Arqueologia etc) havia vídeos de profissionais contando sobre sua escolha de carreira. Posso dizer que 100% dos profissionais contaram que, quando crianças, eram apaixonados por sapos, pássaros, pedras, lua, água ou qualquer outro elemento que hoje faz parte de suas vidas profissionais. Eles também tiveram a chance de explorar várias vezes suas paixões naturais quando crianças, transformando-as em talentos naturais, para o resto da vida.
Esta experiência no museu Perot me mostra o que temos discutido nesta coluna: o quanto o que você escolhe como carreira precisa ter a ver com suas paixões de infância, que, se tiverem sido praticadas livremente, se tornaram seus talentos naturais. Estes, quando descobertos, devem nortear suas escolhas profissionais. Afinal, é o que você adora fazer e sabe fazer bem, como é que podem ser preteridos?
Mas o que geralmente acontece? A criança tem uma paixão natural, que não é percebida ou explorada pelos pais, por diversas razões. Os pais da classe média enchem esta criança de compromissos que não estão alinhados, necessariamente, a estas paixões naturais. Ou a colocam quietinha em frente à TV ou computador depois da escola, para não dar trabalho para a empregada ou avó. Em alguns anos este jovem tem de escolher sua profissão. Na pressa e mal orientado, faz a escolha olhando só para fora: faculdade próxima ao metrô, mensalidade da faculdade, tio que se deu bem em uma área, profissão que o pai não conseguiu ser, profissão do pai, profissão que dá status, mercado, salários… Todos componentes externos. Resultado? Muitos já começaram a terceira tentativa, não gostam de nada. Outros até se formam, mas não trabalham na área ou se tornam profissionais medianos.
Faltou algo que só se encontra dentro de si mesmo. Se você está naquela fase em que sente que escolheu errado, mas nem sabe por onde recomeçar, tem de buscar de dentro pra fora, comece lá na sua infância e analise seus valores, talentos e oportunidades.
Mas voltando ao museu…
Uma das entrevistas era com um piloto de helicóptero que leva os paleontologistas para o campo de pesquisa. Ele escolheu esta profissão porque não conseguiu estudar Paleontologia, e essa foi a forma que encontrou de estar perto de sua paixão de criança. Faz isso com enorme prazer e está sempre pronto para ajudar com algo além de levar e trazer pesquisadores. Vibra com cada descoberta. Carrega cada fóssil com o maior cuidado, pois sabe a importância daquilo. Interessante, porque ele não disse que era apaixonado por voar ou por helicópteros, mas pelos fósseis, pela causa. Mais uma lição de liderança aprendida: junte pessoas que amam a causa, senão eles vão reclamar que o helicóptero é apertado, que está chovendo, que tem de carregar ossos velhos… Quem não ama a causa sempre olhará para o lado ruim de tudo, e tudo tem.
Neste final de semana vi um ótimo filme, o Frost/Nixon. Não quero mudar de assunto no fim do artigo, analisando o governo do Nixon e seu Watergate, mas ele diz uma frase no final do filme, que corrobora o que estamos refletindo hoje:
“Eu não deveria ter escolhido uma vida profissional que dependesse de ser amado pelas pessoas para ter sucesso, pois este nunca foi o meu forte. Deveria ter escolhido uma vida que dependesse do pensamento profundo, do debate, da disciplina intelectual.” Foi aí que ele se perdeu.
E você? Está trabalhando exatamente naquilo para o qual sente que nasceu? Pelo menos já conseguiu relacionar o que faz aos seus talentos naturais ou uma área que você adora pesquisar e conhecer mais e mais? Ou tudo ainda é “só trabalho, só um meio de ganhar a vida” e o prazer só chega na sexta à noite?
Um dos palestrantes do CONARH 2013 disse que o maior prazer dele é quando chega o domingo à noite, porque a vida começa novamente, na segunda. Achei meio depressivo e discordo disso aí… Eu acho muito bom gostar do domingo à noite, porque começarão os desafios, as dores e delícias de um trabalho que instiga e inspira você. E também é ótimo adorar a sexta à noite, porque poderá fazer suas escolhas sobre como quer curtir as pessoas que ama, como quer descansar, experimentar a liberdade de fazer o que quiser. Quanto mais você gosta da sexta e do domingo à noite, mais feliz você é, não?
Talvez devamos seguir o antigo ditado indiano: “Se você quer um futuro glorioso, transforme o presente. Na verdade, você não tem outra escolha.”
Pense nisso neste mês. E lembre-se de que nós, humanos, podemos ter raízes e asas ao mesmo tempo. Use-as.
Fonte: Rosangela Souza e Catho.
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Rosangela Souza é fundadora e sócia-diretora das empresas Companhia de Idiomas e ProfCerto. Graduada em Letras e Tradução/Interpretação pela Unibero, Business English na Philadelphia, USA. Especialista em Gestão Empresarial com MBA pela FGV e aluna do Pós-MBA da FIA/USP. Desenvolveu projetos acadêmicos sobre segmento de idiomas, planejamento estratégico e indicadores de desempenho para MPMEs. Colunista do portal da Catho Carreira & Sucesso.