Desde que nascemos, ao longo das nossas vidas, somos ensinados a fazer o que é certo de acordo com os valores da família, escola, cultura da nossa cidade e país, grupos aos quais pertencemos, empresa onde trabalhamos etc.
Quando começamos a aprender uma língua estrangeira, ainda mais na fase adulta, acionamos esta postura de baixíssima tolerância a erros e intimidamos a nós mesmos. No entanto, a regra mais importante que nos levará à fluência é justamente permitir-se errar. Aceitar que os erros fazem parte da jornada.
Adicionalmente, há o mito de que adultos já passaram da idade de aprender outro idioma e de que crianças e adolescentes aprendem muito mais rápido. O cérebro não nasce pronto e só é “finalizado” a partir dos 20 anos, quando seu processamento e velocidade são muito melhores. Uma das últimas áreas a ser concluída é a frontal, que controla impulsos e molda as perspectivas de futuro. Por isso, as crianças e adolescentes são destemidas, não têm receio da exposição e, em especial até os 7 anos, seus cérebros apresentam uma grande plasticidade e aceitação para o novo. O fato é que tudo é mesmo novo, estão em constante descoberta!
Até os 5 anos de idade, uma criança é exposta à sua língua nativa por 15.000 horas ou mais. Também sabemos que uma criança de 5 anos está no período de alfabetização, que ela tem um vocabulário restrito e domínio relativo das estruturas gramaticais. São necessários muito mais anos, inclusive na escola, para ter vocabulário vasto, dominar estruturas gramaticais complexas e conseguir ler e se expressar sobre diferentes temas com desenvoltura.
Se um adulto estudar inglês, por exemplo, por 5 anos ininterruptos, realizando 2 aulas semanais com professor, isto é, 8 horas mensais, ao final de 5 anos, ele terá realizado aproximadamente 480 horas de aulas, sem considerar o estudo autônomo (extraclasse). Além disso, na fase adulta, já temos consolidado nosso banco de dados do português, que combina sons típicos, palavras e estruturas do nosso idioma. Quando vamos aprender inglês, há vários sons dessa língua que não estão no nosso banco de dados. Não temos referências em nosso hardware, o mesmo acontece com a gramática. A fim de melhorar nossa fluência no inglês, temos de ir além do nosso banco de dados sem medo de cometer erros. Depois de quebrar essa barreira, começaremos a criar um banco de dados para o inglês.
Experiências sensoriais, atividades interativas com imagens e sons contribuem para essa construção. Um exemplo desse tipo de atividade é estudar com flashcards, inclusive virtuais, a palavra ou expressão, sua imagem representativa, pronúncia e um frase para contextualizar. Também será necessário introduzir o inglês em nossa vida diária. Cada palavra deverá ser conectada a sons, sabores, emoções. Cada estrutura gramatical terá de nos ajudar a contar nossa estória, a expor nossos pensamentos. A automação do idioma se dá quando criamos estórias que fazem sentido.
“If you talk to a man in a language he understands, that goes to his head. If you talk to him in his language, that goes to his heart.” Nelson Mandela
Escrito por Lígia Crispino e publicado na coluna semanal da Exame.com. Editado para o blog da Companhia de Idiomas.