Pensar é muito mais do que raciocinar, argumentar, calcular, é dar sentido ao que somos e ao que nos acontece. O pensar se dá através de imagens e palavras. Somos tecidos e costurados com palavras e, quanto maior este repertório, muito mais conseguimos dar sentido à nossa vida pessoal e profissional. As palavras são muito importantes na comunicação, porque nomeamos tudo o que vemos, precisamos, desejamos e sentimos.
Em inglês, por exemplo, esse pensar traz um desafio adicional, que é o longo tempo de exposição para internalizarmos as palavras e gramática para, enfim, começarmos a pensar no idioma.
Temos visto, já há alguns anos, mudanças relevantes no processo de aprendizagem de língua estrangeira. A que quero explorar hoje é o uso de experiência no ensino: Learning Experience. Infelizmente, muitos professores ainda veem a aprendizagem como adquirir e processar informações. Por conta dessa crença, eles se colocam no centro e acham que os alunos aprenderão apenas por ouvirem-nos falar. Só que nós não aprendemos com a experiência dos outros, temos de viver, colocar a mão na massa, praticar. Não basta apenas ouvir o professor, assistir a séries, ouvir música e fazer exercícios. Há que se ter intenções de aprendizagem e experiências nas quais utilizar e transformar o que se estuda. Dar sentido para a língua estrangeira em nossa vida.
A experiência é o que nos acontece, o que nos toca, o que nos afeta, o que se passa conosco, o que nos atravessa. A informação por si só não é experiência. O saber adquirido através da experiência é muito diferente de saber coisas, de estar informado. Muitos cursos online não são baseados em nenhuma metodologia de aprendizagem real. São apenas repositórios de informação, vídeos gravados em plataformas ou aulas online ao vivo despejadas na tela, sem uma preocupação de como engajar os alunos.
Hoje, estamos super informados, temos acesso a inúmeros conteúdos e Apps de estudo; somos agitados; opinamos sobre tudo, temos muitas vontades e sentimos que temos pouco tempo livre. Por isso, o tempo se tornou uma mercadoria valiosa e muito disputada. Adicionalmente, vivemos a era do lifelong learning (aprendizado constante) para tentar acompanhar algumas das mudanças diárias no mundo.
O fato é que os estímulos são infinitos e substituídos de forma fugaz e efêmera, tudo passa muito depressa. Quando tudo acontece de forma atropelada, ficamos desconectados do que vivenciamos e a consequência em nossa mente é a falta de vestígios, ou seja, memória, porque não registramos o que vemos em aula, esquecemos tudo facilmente. Como valorizar as experiências neste cenário em que tudo acontece de forma atropelada?
Para vivenciarmos experiências de aprendizagem, precisamos olhar, sentir, escutar, pensar em um ritmo mais lento, nos demorarmos nos detalhes, cultivarmos atenção. Na outra ponta, também precisamos suspender a opinião pra tudo, o julgamento e o automatismo nas reações. Há alunos que julgam a política e cultura dos Estados Unidos e transferem isso para o aprendizado do inglês. Só que, gostando ou não, é o idioma dos negócios, faculdades internacionais de ponta e turismo.
Dito tudo isso, a experiência de aprendizagem é uma metodologia de aprender fazendo. Todo o processo de ensino é focado nas particularidades, interesses e necessidades do aluno, promovendo seu envolvimento ativo em desafios e atividades que refletem problemas e situações reais de sua vida. Em outras palavras, para promover experiências de aprendizagem eficazes, os professores precisam:
- compreender o contexto do aluno (passado, presente e futuro);
- verificar e responder ao seu nível de fluência;
- estimular práticas adequadas durante o curso;
- Desenvolver o protagonismo e autonomia do aluno.
Deixo aqui três sugestões de experiência de aprendizagem do inglês, criar clubes de:
- Leitura de livros em inglês para quem ama ler
- Cinema para os cinéfilos
- Séries
– Convide amigos que falam inglês e/ ou estão estudando. Crie um grupo no Telegram ou WhatsApp, com algumas regras de seleção do que será lido e assistido.
– O ideal é que os grupos sejam pequenos, entre 6 a 8 pessoas.
– No caso dos livros, que demandam mais tempo, é possível agendar encontros por capítulos ou dar um prazo maior para a discussão do livro todo. O grupo pode votar nos livros que serão lidos e discutidos.
– Para os filmes e séries, os encontros podem ser quinzenais ou mensais.
– O material selecionado deve ser lido e assistido em inglês e os encontros também em inglês.
Para finalizar, o aprendiz da experiência deve estar aberto, exposto, disponível, receptivo ao desconhecido e, consequentemente, à sua própria transformação através da aprendizagem.
Escrito por Lígia Crispino e publicado na coluna semanal da Exame.com. Editado para o blog da Companhia de Idiomas.