Dalai Lama fala de paz, harmonia, caminho do meio, conciliação. Não usa ou incita nenhum tipo de violência, nem a verbal. Em tempos de arroubos emocionais no Congresso e Senado do nosso país, é um alento ver que é possível lutar com sabedoria e compaixão, até mesmo contra a China. Seria possível lutarmos assim nas nossas minúsculas batalhas diárias?
Ele diz que, a curto prazo, a violência pode sim conquistar algo importante. Mas o fruto da conquista pode ser destruído rapidamente, e ele quer algo sustentável, uma solução duradoura e pacífica. Ouso discordar quando leio sobre a independência de muitos países conquistada com sangue. Mas concordo que uma solução pacífica constrói pontes.
Em nosso mundinho corporativo, nem sempre conseguimos pensar a médio prazo, queremos tudo e hoje. E invariavelmente pagamos um preço alto no dia seguinte, ou nos anos seguintes.
É quando tentamos neutralizar quem parece ser melhor que nós, para nos sentirmos seguros, e pode até ser que consigamos a promoção antes dele.
As melhores conquistas, as que valem a pena, só vêm como resultado da colaboração, do conhecimento, da disciplina e do bom humor.
Aprendi que Dalai Lama usa aquele manto amarelo e vermelho para simbolizar, respectivamente, a sabedoria e a compaixão por todos os seres. Compaixão por todos, não só pelos iguais, pelos que têm a mesma religião, pelos que pensam como ele. E ele diferencia perdão e compaixão, algo que eu não sabia (como tenho a aprender). Quando perdoamos, nos colocamos acima da pessoa perdoada, nos sentimos superiores, capazes de um gesto tão bonito que é perdoar aquele que erra.
"Parece suficiente e nem isso conseguimos algumas vezes. Mas todos nós, que já perdoamos alguém e nos sentimos superiores por isso, sabemos que este perdão pode ser mais uma armadilha da vaidade e da arrogância. A compaixão é a compreensão profunda de que todos nós somos falíveis, cometemos os mesmos erros ou até outros piores que aqueles que julgamos. E, por isso, está tudo certo, é só uma questão de tempo – ele erra, eu erro, nós todos erramos.
Ele diz: "Quem somos nós para julgar, condenar ou até perdoar? Está tudo certo." Mundo lindo este que o Dalai Lama prega, né?
Vale tentar, no nosso mundinho, realizar o exercício diário de nos percebermos maravilhosos e também cheios de falhas. E, por isso, tentar contribuir sem julgar, ensinar sem “se achar”, pedir ajuda sem se constranger, pedir desculpas sem se considerar incompetente, corrigir sem destruir o outro.
Mas vamos voltar ao manto vermelho e amarelo. Não é só vermelho, porque ele diz que se você tem só compaixão, pode virar um bobão (ok, esta rima pobre é minha e não dele).
Junto com a compaixão, temos de desenvolver a sabedoria, simbolizada pela cor amarela. Sabedoria sem compaixão nos deixa arrogantes, achando que descobrimos o “verdadeiro caminho”, o que quer que isso signifique.
Paixão e sabedoria no dia a dia. Sem se alienar, apesar dos enormes esforços da sociedade para nos encantar e viciar em ida a shoppings, caça a Pokémons e dez séries simultâneas no Netflix. Tudo assim mesmo, em excesso, como prega a regra básica do consumismo.
Descobrir que um pouquinho pode ser tão bom! Mas o excesso, quando estamos viciados e nem percebemos, nos tira o tempo precioso para conquistas e contatos que nos levam à felicidade verdadeira, aquela que vem das coisas relevantes.
E, quando estamos viciados, nem prazer temos, fazemos no automático. Que hábito nocivo podemos tentar diminuir, dando espaço para hábitos saudáveis e sustentáveis? Que pensamentos? Que omissões? Que ações? Reações?
Gosto deste caminho do meio pregado por ele. Nada a rejeitar! Que venham os Pokémons, as séries, as redes sociais e os shoppings! Mas que venham também as meditações, as reflexões sobre nosso comportamento, a disciplina, o querer ser melhor, a descoberta de prazeres não materiais. E como o dia só tem 24 horas, diminuiremos o que é irrelevante.
Que em nossas empresas tenhamos sabedoria e compaixão. E que sejamos guerreiros, lutando sem nos acomodar pelo que acreditamos – mas sempre em paz.
Escrito por Rosangela Souza. Publicado em 16 de setembro de 2016 na Revista Catho – Carreira & Sucesso. Editado por Rosangela Souza para o site da Companhia de Idiomas – Artigos de Gestão.
Rosangela Souza é fundadora e sócia-diretora da Companhia de Idiomas e ProfCerto. Graduada em Letras e Tradução/Interpretação pela Unibero, Business English na Philadelphia, USA. Especialista em Gestão Empresarial com MBA pela FGV e PÓSMBA pela FIA/FEA/USP. Desenvolveu projetos acadêmicos sobre segmento de idiomas, planejamento estratégico e indicadores de desempenho para MPMEs. Colunista do portal da Catho Carreira & Sucesso, RH.com e Exame.com. Professora de Técnicas de Comunicação, Gestão de Pessoas e Estratégia na pós graduação ADM da Fundação Getulio Vargas/FGV.