Customize Consent Preferences

We use cookies to help you navigate efficiently and perform certain functions. You will find detailed information about all cookies under each consent category below.

The cookies that are categorized as "Necessary" are stored on your browser as they are essential for enabling the basic functionalities of the site. ... 

Always Active

Necessary cookies are required to enable the basic features of this site, such as providing secure log-in or adjusting your consent preferences. These cookies do not store any personally identifiable data.

No cookies to display.

Functional cookies help perform certain functionalities like sharing the content of the website on social media platforms, collecting feedback, and other third-party features.

No cookies to display.

Analytical cookies are used to understand how visitors interact with the website. These cookies help provide information on metrics such as the number of visitors, bounce rate, traffic source, etc.

No cookies to display.

Performance cookies are used to understand and analyze the key performance indexes of the website which helps in delivering a better user experience for the visitors.

No cookies to display.

Advertisement cookies are used to provide visitors with customized advertisements based on the pages you visited previously and to analyze the effectiveness of the ad campaigns.

No cookies to display.

Cisne Negro, Andy Warhol e O Discurso do Rei: Planejamento ou Improviso? - Companhia de Idiomas

Cisne Negro, Andy Warhol e O Discurso do Rei: Planejamento ou Improviso?

No último workshop que conduzi com os professores da Companhia de Idiomas, refletimos sobre algumas posturas que temos na vida profissional e pessoal: controle e paixão, planejamento e improviso, disciplina e o deixa rolar, que na hora eu vejo. Em qualquer área de atuação encontramos profissionais como Nina Sayers – a bailarina de Cisne Negro, que se fragmenta por dentro ao buscar a perfeição do movimento, através da disciplina excessiva, que a impedia de simplesmente sentir, deixar-se levar, entregar-se. “Let it go!” Repetia seu coreógrafo. E ela… ensaiava. Ele dizia: “A perfeição não está no controle, está na entrega.” E ela… controlava cada passo. Esse conselho do coreógrafo, contudo, não pode ser interpretado como uma motivação para o despreparo. Deve inspirar profissionais a buscar incansavelmente o conhecimento, a preparação, o planejamento – como a bailarina – mas também permitir sempre espaço para o improviso, se for fruto da paixão pelo que se faz, e da compreensão do outro: em nosso cenário, a Companhia de Idiomas, compreensão de quem é o aluno, e do que ele precisa.

[CORTAR]Será que somos capazes de equilibrar o conteúdo que queremos “transmitir” com aquilo que o aluno realmente precisa aprender? Será que não damos aulas sem perceber que muitas delas não têm nada a ver com o aluno, mas apenas com nossa vontade de abordar aquilo, naquele dia?

Andy Warhol é a antítese do personagem de Natalie Portman do filme Cisne Negro. Para mim, sua obra me parece sempre uma grande brincadeira. Mas é séria. Nos faz refletir sobre a cultura massificada, a cópia, a sociedade que só valoriza o consumo, e o que é verdadeiramente talento ou criatividade. Sua obra “Eight Elvises” foi vendida a um colecionador por 100 milhões de dólares, de acordo com a revista The Economist, em 2009. E era uma serigrafia, como tantas outras que fez, não era um quadro pintado a mão. Ele também não se preocupava em criar uma obra perfeita, planejada – deixava, muitas vezes, as imperfeições da impressão, falhas ou manchas de tinta. Que analogia podemos fazer entre sua obra e a nossa obra, ou seja, nossas aulas?

O Rei George, em O Discurso do Rei, de Tom Hooper, também pode inspirar nossa reflexão: ele só consegue vencer seu maior desafio quando se descobre imperfeito, quando se aceita, e adquire autoconfiança para falar em público, graças à coragem de seu terapeuta de fala, um profissional nada convencional e bem criativo. É essa coragem para propor algo novo, sem medo da crítica ou julgamento, que transforma bons profissionais em profissionais brilhantes.

Ótimas reflexões, mas, e no dia a dia? O professor planeja a sua aula, de acordo com a proposta pedagógica, plano de ação, plano de aula. Quando começa a explorar o conteúdo, seu aluno faz uma pergunta um pouco diferente do assunto que seria explorado no dia. O professor ouve e se vê diante de um dilema: o que fazer? Responder a pergunta objetivamente e continuar “a aula planejada” ? Anotar a questão e dizer que responderá ao terminar o que está expondo? Anotar a pergunta e pedir ao grupo que pense na resposta? Solicitar ao aluno que anote a pergunta e a repita ao final da aula? O professor deve saber analisar, em fração de segundos, se a pergunta contribui para o desenvolvimento do tema abordado. Se a aula for para um grupo, deve ter cuidado para não iniciar ali um diálogo apenas com aquele aluno, que pode ter um nível de compreensão conceitual mais alto que a classe, desmotivando os outros, por não entenderem a pergunta ou a resposta. Pode sinalizar a necessidade de uma atenção individualizada ao aluno que formulou a pergunta, uma vez que esta demonstra que o mesmo não está acompanhando o conteúdo. Enfim, o professor não pode esquecer seu planejamento todas as vezes que um aluno fizer uma pergunta fora do script, mas também não pode elaborar um planejamento refratário a improvisos.

O plano precisa existir : o método, o objetivo de cada curso, o prazo, o estágio, a aula. O objetivo não pode ser esquecido. Mas o improviso precisa fazer parte do plano.

Se o objetivo estiver claro, a atividade pode ser mudada, como um improviso planejado. É possível incorporar o improviso ao planejamento – como parte da sua essência, e não como adorno ou concessão. O improviso deve ser considerado um espaço legítimo da flexibilidade e da inovação na aula. Ater-se apenas ao que foi planejado é matar a inovação, é impedir que o aluno seja parte do processo. E quando o professor preserva o planejamento sem flexibilizá-lo, dando aulas repetidas a alunos diferentes por vários anos, enterra qualquer chance de obter resultados consistentes naquele curso, pois não enxerga mais o aluno e suas necessidades e motivações.

Citando uma frase de Andy Warhol: “Temo que se você olhar para alguma coisa por muito tempo, ela perderá totalmente o significado.”

Se você está fazendo a mesma coisa há algum tempo, fique atento para combinar técnica e sensibilidade, planejamento e improviso, ciência e arte, disciplina e prazer, razão e afeto, transmissão de conteúdo e reconstrução do conhecimento. Quando o profissional – em qualquer área – conseguir vencer este desafio, acabará a inflexibilidade catatônica que emburrece a todos nós, um pouquinho, todos os dias.

Rosangela F. Souza é sócia-diretora da Companhia de Idiomas, Especialista em Gestão Empresarial, com MBA pela Fundação Getulio Vargas e aluna do curso de Docência da FGV.

Posso ajudar?